Dias atrás, o Facebook tirou do ar 300 páginas e perfis que “violaram” as regras de uso da empresa, muitos deles ligados ao MBL, Movimento Brasil Livre. Foram desativadas 196 páginas e 87 perfis dessa organização direitista. Segundo a rede social, as páginas e perfis “faziam parte de uma rede coordenada que se ocultava com o uso de contas falsas no Facebook, e escondia das pessoas a natureza e a origem de seu conteúdo com o propósito de gerar divisão e espalhar desinformação”. As páginas suspensas são conhecidas pela divulgação de “Fake News” (notícias falsas) e por fazerem a propaganda ideológica dos representantes que se intitulam da “nova política”, velhos liberais cujas ideias e práticas não têm nada de novo.
O elevado número de páginas e perfis derrubados assustou inclusive os pesquisadores da USP que, através do Monitor do Debate Político no Meio Digital, tem pouco mais de 20 páginas de direita mapeadas. Tudo indica que uma poderosa rede de divulgação de notícias falsas e manipulações estava sendo preparada para as eleições de outubro. Ao que tudo indica, os membros do MBL deturpavam o controle compartilhado das páginas e, assim, conseguiam divulgar suas mensagens coordenadas, como se as notícias viessem de diferentes veículos de comunicação independentes. O esquema era feito através de perfis verdadeiros, que por sua vez eram utilizados para criar uma série de usuários falsos. Esses usuários, então, criavam e administravam as páginas que foram derrubadas.
O coordenador do Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Fábio Malini, explica que é feita uma rede de páginas, pensada como engenharia da informação, que gera alcance em diferentes públicos. Isso faz com que surja um "clima de opinião favorável" às pautas dessas páginas, o que é uma força muito poderosa nas decisões democráticas. Seja com posts pagos ou orgânicos, essa rede consegue afetar parte da opinião pública com informações parciais ou mentirosas. E isso se dá em todos os espectros políticos.
Assim como o MBL, Facebook atua a favor do imperialismo
Em março deste ano, a imprensa mundial denunciou que a Cambridge Analytica, uma empresa privada que combina mineração e análise de dados com comunicação estratégica para o processo eleitoral, teria usado informações pessoais de 50 milhões de perfis, obtidas através do Facebook. De acordo com o jornal britânico The Guardian, o Facebook tinha conhecimento que essa violação de segurança aconteceu por dois anos, mas não fez nada para proteger seus usuários. Robert Mercer, um dos proprietários da Cambridge Analytica é financiador de organizações que apoiam causas políticas de direita nos Estados Unidos, como a campanha de Donald Trump para presidente. As denúncias e questionamentos formais sobre as práticas da empresa têm sido constantes, porém sem acarretar problemas sérios à sua existência. Mesmo assim, seus diretores foram obrigados a se pronunciar publicamente sobre o combate às “fake News” e outras formas de manipulações. Mark Zuckerberg, o fundador e CEO da empresa, garantiu aos parlamentares norte-americanos que acreditava que tinha “a responsabilidade de não apenas criar ferramentas, mas de garantir que essas ferramentas sejam usadas para o bem”. Um posicionamento defensivo que revela que a empresa possui informações à disposição do mercado, das eleições e de todo tipo de golpistas e que, inevitavelmente, irá lucrar com isso.
Esquerda crédula na democracia - liberdade de expressão em risco
Parte da esquerda comemorou o fato como se a empresa de Zuckerberg tivesse, finalmente, feito justiça contra os grandes mentirosos das redes sociais. Trata-se de uma abordagem impressionista da questão, que não leva em consideração os interesses corporativos do Facebook. A decisão da rede social não tem nenhuma relação com os interesses da classe trabalhadora e da esquerda em geral. Zuckerberg tem um negócio bilionário que estimula o consumo e, portanto, não tem interesse econômico nos robôs. Quanto aos interesses políticos, é preciso entender que estão a serviço dos planos corporativos. Essa extrema-direita que está sendo censurada não passa de instrumento do imperialismo para aumentar o conservadorismo na sociedade e facilitar seu projeto de destruição dos direitos sociais e democráticos da classe trabalhadora, a fim de aumentar a exploração. O descarte do MBL e outros faz parte dos planos imperialistas e indica que eles apenas perderam a serventia.
“Notícias” falsas e manipuladas são a base de atuação da grande imprensa mundial desde sempre. Enquanto, em nome do “bem”, o controle se instala nas redes sociais, a imprensa capitalista no Brasil mantém seu monopólio através de cinco famílias que controlam metade dos 50 veículos de comunicação com maior audiência no País, sem ser questionada por ninguém. O parágrafo 5º do artigo 220 da Constituição afirma que "os meios de comunicação social não podem, direta ou indiretamente, ser objeto de monopólio ou oligopólio". Tal diretriz nunca foi regulamentada pelo Congresso Nacional. Esses monopólios são e serão responsáveis por todo o tipo de manipulação possível em favor da direita nas eleições.
As várias revelações sobre o uso comercial e político do Facebook comprovaram que as redes sociais se consolidam como mais uma arma poderosa da burguesia para controle e manipulação das informações. Ao apoiar a censura aos grupos da direita em nome de um suposto moralismo no uso das redes sociais, a esquerda abre caminhos para a aceitação da censura como instrumento legítimo, sem considerar quem terá o poder de utilizá-la.
A suspensão das páginas dos grupos de extrema-direita, longe de ser uma estratégia democrática e moralista a favor da liberdade de expressão, deve ser encarada como realmente é: a simples interferência empresarial da direita nos veículos de comunicação. Nada a comemorar.