É conhecimento geral que, mesmo estando afundado em uma gigantesca dívida pública, os Estados Unidos são a nação mais rica do mundo. É uma quantidade de dinheiro inacreditável. Seria de se esperar que os cidadãos de um país tão rico e poderoso desfrutassem de ao menos um pouco dessa riqueza. Mas, na realidade, a situação é o outra. Grande parte dos norte-americanos vivem em condições dramáticas, em muito semelhantes às que se espera ver no dito “terceiro mundo” ou “sul global”.
Os números são de fato impressionantes. Segundo um estudo divulgado pela de notícias norte-americano, CNN, 51 milhões de famílias americanas (ou seja, 41% do total) não ganham o suficiente para pagar as contas básicas –aluguel, creche para as crianças, atendimento médico, transporte, telefone etc. Isso durante uma suposta “melhora significativa” na economia, que aparentemente teria alcançando um número recorde na taxa de desemprego: apenas 3,9%. Ora, essa é a taxa “simpática”, divulgada para demonstrar como a economia capitalista está funcionando bem (o que é absurdo, pois mesmo que essa cifra corresponde a taxa real, os cidadãos americanos continuariam sem conseguir pagar as contas – o que dificilmente constitui o bom funcionamento de uma economia).
O economista da Universidade de Massachusetts Amhrest, Robert Pollin, discorda da taxa divulgada, pois, segundo a teoria econômica aceita, quando o desemprego cai, os salários teriam que necessariamente aumentar, pois os contratadores supostamente teriam de oferecer incentivos melhores para conquistar o trabalhador, que teria opções na hora de escolher o emprego. Essa não é, nem de longe, a realidade no país do Tio Sam, apesar da suposta queda no desemprego. Pollin diz que a taxa oficial de 3,9% não leva em consideração diversas questões para além do desemprego formal. Primeiro, a quantidade de pessoas que estão subempregadas e que desejam, mas não conseguem obter um emprego integral para se sustentar adequadamente. Esse fator, sozinho, aumentaria a taxa para 7,8%. Para além disso, a taxa oficial considera apenas pessoas que estão desempregadas, mas continuam procurando emprego; ela desconsidera um fator importante: a saída de um imenso contingente de indivíduos do mercado de trabalho que antes estavam em busca de emprego, mas que agora desistiram devido à falta destes – o que, se somado às outras porcentagens, elevaria a taxa de desemprego para algo em torno de 12%.
A situação da classe trabalhadora (e da classe média) é tão precária que, segundo o artigo da rede de televisão aberta americana, CBS, do início de 2017, 57% da população norte-americana não conseguiria cobrir uma emergência de US$ 500. A maioria dos norte-americanos vive numa situação à beira da penúria, tendo que complementar sua renda se endividando com cartões de crédito. Ou seja, qualquer problema de saúde, qualquer defeito no carro, qualquer dificuldade inesperada certamente colocaria o trabalhador médio em uma situação de quase falência.
E de quem seria a culpa para tanto? Será que os trabalhadores norte-americanos simplesmente deveriam trabalhar mais, produzir mais, para assim se sustentarem adequadamente? Certamente que não! Segundo o site Economic Policy Institute, que, entre outras coisas, mede a distância entre o crescimento da produtividade e o crescimento do salário dos trabalhadores, desde 1973 até 2016, a produtividade do trabalhador médio cresceu 73%, enquanto seu salário médio cresceu apenas 12,5% (após ajustes da inflação). Ou seja, a produtividade cresceu 5,9 vezes a mais do que o salário dos trabalhadores. Para onde foi todo esse valor adicional se não foi para a justa compensação do esforço adicional dos trabalhadores? É óbvio que para o topo, para os donos das grandes corporações, para os diretores, os CEOs, os acionistas, ou seja, em uma palavra: para a burguesia!
Os últimos quarenta anos foram notáveis na capacidade dos burgueses de extrair mais-valia dos trabalhadores norte-americanos. No seio da nação mais rica do mundo, que teve um crescimento de produção extraordinário, a classe trabalhadora vive num estado absolutamente miserável e, como se não bastasse, para o povo norte-americano é regularmente dito que é impossível ter um sistema de saúde gratuito e universal, pois seria “caro demais”!
E para onde vai todo esse capital? (Lembremos que o PIB dos EUA é de US$ 19 trilhões! Para comparar, o PIB brasileiro é de US$ 2 trilhões – e conseguimos pagar o SUS, apesar de todas as suas mazela). Certamente esse dinheiro não beneficia a classe trabalhadora. Segundo artigos do jornal Washington Post e do jornal USA Today, o último orçamento de gastos do Estado norte-americano, proposto por Trump e sua equipe, tem uma característica peculiar: ele recomenda conter os gastos públicos para sanar a dívida pública americana (que no momento alcança US$ 21 trilhões, maior do que o próprio PIB), por meio de uma série de cortes, sobretudo nos gastos com as escassas políticas públicas, tal como o auxílio à atendimento médico (Medicaid e Medicare) e auxílio à alimentação (os cupons de vale-alimentação), ao mesmo tempo que aumenta o gasto público com o Exército. O orçamento de “defesa” dos EUA foi proposto em US$ 716 bilhões, o que representa um aumento de 7% em relação ao do ano passado. Grande parte do dinheiro extraído do povo sustenta o Império Norte-americano que além de não beneficiar os trabalhadores, os onera pesadamente, tanto com serviços públicos precários e pesados impostos que sustentam a máquina de guerra, quanto com o sangue da juventude trabalhadora, que, sem ter emprego nem esperança de ascensão econômica, muitas vezes entra no Exército como garantia de emprego estável. São os filhos da classe trabalhadora que pagam com suas vidas para sustentar o império capitalista constituído à sua revelia.
Não é somente no campo de batalha que a juventude trabalhadora morre. De acordo com o estudo publicado na revista Health Affairs, os EUA têm uma das piores taxas de mortalidade infantil, sobretudo na população negra (que sofre os piores abusos de um sistema já profundamente desigual). Para além das crianças que morrem em quantidades indesculpáveis, morrem também as mães. Conforme os números referentes a taxa de mortalidade materna (MMR), responsável por medir a mortalidade das mulheres durante e após o parto, entre 1990 e 2015, as mortes das mães aumentou 1,8% ao ano.
E o que devemos tirar disso tudo? Primeiro: no país mais rico do mundo, no império mais poderoso da história, a população não é capaz de se manter acima da miséria e da penúria financeira. Isso mostra o quão falida é a ideologia capitalista. No lugar onde ela melhor funciona (isto é, onde ela é capaz de gerar a maior quantidade de capital), mais miséria ela gera; dialeticamente, quão mais ricos a burguesia se torna, mais pobre a classe trabalhadora se desenha (ao contrário dos absurdos neoliberais que dizem que o lucro da burguesia “escorre para baixo”, chegando à classe trabalhadora); Segundo: não devemos, então, nos espelhar nos norte-americanos, mas, muito pelo contrário, devemos repudiar a sua ideologia baixa e mentirosa, que se diz igualitária, mas na verdade serve apenas ao estrato do 1% mais rico da população (lembremos que atualmente, segundo estudo da ONG Oxfam, os oito homens mais ricos do mundo são donos da mesma quantidade de riqueza que a metade mais pobre da população mundial, isto é, 3,5 bilhões de pessoas). Devemos, portanto, rejeitar o capitalismo neoliberal para substituí-lo pela alternativa revolucionária: o socialismo!