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Esquerda pequeno-burguesa a espera de um golpista para chamar de seu

A primeira pesquisa eleitoral realizada sem o nome de Lula mostrou que o percentual de pessoas que dizem escolher votar em branco, nulo ou que ainda não sabem em quem votar na ausência da “alternativa Lula”, vai de 36% a 40%. O site Poder360 publicou uma pesquisa realizada pela sua divisão denominada DataPoder360, no último dia 5 de junho, em que excluiu o nome do ex-presidente petista de todos os cenários pesquisados. O site se antecipou a qualquer decisão formal sobre o registro da candidatura do líder petista para tentar manipular a opinião pública, mas não conseguiu justificar a grande adesão à abstenção nos cenários que criou.

À revelia dos planos golpistas e sob uma forte pressão de suas bases, o Partido dos Trabalhadores (PT) lançou, no último dia 8 de junho, em Contagem-MG, a pré-candidatura de Lula. As lideranças do PT apresentaram o ato como o “ponto de partida de uma nova série de mobilizações para garantir Lula no páreo da disputa eleitoral de outubro”. A manutenção da candidatura Lula é uma política acertada que deve servir para denunciar a fraude das eleições de 2018, em que o candidato escolhido pelo povo está preso por uma manobra direta do imperialismo norte-americano, enquanto corruptos e todo o tipo de “foras da lei” governam o país e controlam as eleições.

Todavia, enquanto o apoio popular à Lula aumenta, revelando a possibilidade de vitória no primeiro turno, setores da esquerda oportunista e eleitoreira querem manter a política de Frente Popular, ou seja, de conciliação com a burguesia, e se misturam com os golpistas. A falta de uma pauta unificada de luta contra o golpe evidenciou, desde 2016, a opção dessa esquerda pelo caminho das instituições burguesas, em especial o das eleições, como forma de garantir a sobrevivência material de suas burocracias. Essa é uma política de traição aos interesses dos trabalhadores e, provavelmente, autodestrutiva. O próprio PT está pressionado por suas bases a ir até o fim com Lula, assim como foram pressionados a resistir à prisão do petista em São Bernardo, mas os acordos com os partidos que defenderam o golpe já ganham forma em todo o país, indicando o fortalecimento da política do “plano B”, ou seja, que o partido aceite o golpe e apoie um nome palatável aos interesses imperialistas para disputar as eleições presidenciais.

Na verdade, a preocupação maior desses setores é eleger governadores e deputados e, para isso, irão recorrer às coalizões com partidos da direita, inclusive com os que apoiaram o impeachment de Dilma Rousseff, como o PSB, o PDT e outros mais à direita ainda.

Luta contra o golpe ou oportunismo eleitoreiro?

As eleições criam uma tribuna para se falar aos trabalhadores, politizam os debates públicos e expressam, mesmo que de forma limitada e confusa, as ansiedades populares. Porém, quando a esquerda insiste em priorizar interesses fisiológicos de seus partidos e a ignorar o debate sincero com a população sobre as manipulações das eleições burguesas, ela abre brechas para que a direita, em crise devido ao caráter antipopular de seus governos, se restabeleça através de candidatos com fachadas progressistas, que supostamente atenderiam aos anseios populares.

Esse é o caso de Ciro Gomes (PDT). A trajetória política de Ciro Gomes não deixa nenhuma dúvida sobre quais interesses sua candidatura representa. O presidenciável, que se apresenta como “alternativa” ao nome de Lula, iniciou sua carreira política no PDS (nomenclatura adotada pelo ARENA, partido que dava sustentação ao Regime Militar, após a redemocratização do país), seguindo para o PMDB, PSDB, PPS, PSB e hoje está no PDT. Pulando de partido em partido por claro oportunismo eleitoreiro, Ciro, na verdade, consolidou sua carreira política a partir do Ceará, ao lado de Tasso Jereissati, o senador tucano articulador da Reforma Trabalhista (Esse empresário, que tem um patrimônio estimado em aproximadamente R$ 400 milhões e é acionista com investimentos em diversos bancos dentro e fora do país, iniciou sua carreira política no PMDB e migrou para o PSDB, em 1988). Ciro Gomes filiou-se ao partido tucano na mesma época e, desde então, os dois mantiveram relações políticas estreitas. Ciro foi defensor do nome de Jereissati para possíveis eleições indiretas no ano passado. Ou seja, essa trajetória que partiu da direita em direção à centro-esquerda não passa de um oportunismo de quem vislumbrou rapidamente que a população, após a redemocratização e a experiência maligna com o neoliberalismo agressivo dos governos FHC, apostaria em alternativas de esquerda nas eleições.

Não foi difícil prever que as Reformas do programa de Michel Temer, impostas pelo imperialismo, seriam altamente impopulares e Ciro Gomes soube ocupar um espaço deixado pela própria esquerda. Com mais rapidez e entusiasmo do que os próprios políticos petistas, o candidato do PDT denunciou o golpe e mostrou-se solidário ao ex-presidente Lula como forma de atrair seu eleitorado. Porém, após a prisão do petista, saiu da reserva e entrou em campo como legítimo candidato “coringa”. Fala em “conciliação de classes” como forma de pacificar o país, mas a única “conciliação” possível será na campanha eleitoral onde ele poderá ser o candidato que a direita precisa como solução para seu completo fracasso em emplacar um nome e, ao mesmo tempo, uma alternativa para a esquerda eleitoreira do PT, em especial do PCdoB, como estratégia para manter seus partidos no jogo democrático controlado pela burguesia.

Ciro Gomes: alternativa da direita?

A direita enfrenta uma crise tão intensa que o nome de Ciro Gomes vai ganhando espaço na imprensa golpista, o que, por outro lado, vem desfazendo a sua máscara de progressista. O candidato já teve de dizer na Folha de São Paulo que é a favor da Reforma da Previdência e, nesta semana, a imprensa divulgou como certa a escolha do dono da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), Benjamin Steinbruch, recém-filiado ao PP, como vice na chapa de Ciro. Steinbruch, que se afastou da vice-presidência da FIESP para disputar as eleições, disse à imprensa que Ciro não é de esquerda. Isso todos sabem, porém a esquerda que capitula em nome dos seus interesses burocráticos, finge não saber. Flávio Dino, governador do Maranhão pelo PCdoB, e Jaques Wagner, ex-governador baiano do PT, já defenderam publicamente a aproximação entre partidos do campo progressista e Ciro Gomes. O PDT de Ciro já chegou a integrar a chamada “Frente de Esquerda” junto com PT, PCdoB, Psol e PSB, que em fevereiro deste ano lançou um manifesto chamado “Unidade para Reconstruir o Brasil”. O documento, que se define como uma base programática convergente entre os partidos e não como uma aliança eleitoral, não apresenta a defesa da candidatura Lula.

O desenvolvimento da situação política vem mostrando que tais alianças não têm nada a ver com frentes de esquerda, mas sim com a tentativa de restabelecer a moribunda política de Frente Popular onde só a burguesia tem a ganhar. Nesse sentido, o nome Ciro Gomes consolida-se como o representante da direita em um eventual acordo com Lula ou o candidato que o ex-presidente indicar. PT e PDT disputam agora o apoio do PSB.

A campanha em torno da defesa da candidatura Lula é uma forma de elevar a consciência dos trabalhadores sobre o golpe e fazer das eleições uma tribuna para denunciar a farsa da democracia burguesa. As eleições sem a participação de Lula é uma fraude que a classe trabalhadora não pode aceitar, mas seus problemas não serão resolvidos através das eleições. Somente a ação direta das massas conseguirá barrar o golpe e a investida da direita contra todos os direitos da classe trabalhadora e contra a soberania nacional. É preciso pressionar as direções da esquerda nesse sentido.

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