Com a proximidade das eleições, o aprofundamento da crise política e as contradições internas do capitalismo ficam cada vez mais evidentes. O processo vem se afunilando e a polarização entre a “civilização” e a “barbárie” é uma evidência disso. Sem dúvidas, estas são as eleições mais controladas desde a redemocratização do Brasil. A “máscara” da democracia burguesa “caiu” e a população, mais do que nunca, está sendo totalmente expurgada do processo eleitoral, sem direito a escolher efetivamente os seus candidatos. Temos o caso do impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff, arrancada do poder por meio de um golpe jurídico-parlamentar e, mais recentemente, a prisão política do ex-presidente Lula, uma farsa jurídica montada única e exclusivamente para retirar do pleito o candidato preferido do povo.
Nós, da Luta Pelo Socialismo (LPS), não reivindicamos o projeto reformista do PT, pelo contrário, mas entendemos que qualquer debate sério precisa levar em consideração a análise da conjuntura política, do momento histórico e da correlação de forças na luta de classes. Vivemos num período não-revolucionário, portanto, o boicote às eleições não está colocado neste momento. Nesse sentido, o que está posto é, basicamente, o embate entre a direita (com a candidatura de Jair Bolsonaro –PSL – e os defensores da Ditadura Militar, do fascismo em seu extremo e/ou por sua variante “democrática” como a Opus Dei, de Alckmin, e Tasso Jereissati, de Ciro) e os setores que se encontram no plano mais progressista, de combate ao golpe, em defesa da Constituinte, dos direitos básicos da população etc., representados pela candidatura petista de Fernando Haddad e Manuela D’Ávila, uma vez que a direita impediu a participação de Lula no processo eleitoral.
Mesmo entendendo que as eleições burguesas são uma fraude, onde a participação da classe trabalhadora é barrada de várias formas, compreendemos que este é um momento de buscar uma unidade, na luta, contra a retirada de direitos e a política da extrema-direita, isto é, o fascismo. Assim, o que está colocado para os setores revolucionários é utilizar as eleições para denunciar todos esses ataques, apoiando o voto crítico em Haddad como uma necessidade para desmoralizar a própria noção de democracia burguesa. Não podemos perder de vista que a população, majoritariamente, ainda nutre ilusões nas eleições. Portanto, este é o momento de fazer uso dessa plataforma, por mais controlada que ela seja, para fazer avançar a consciência crítica das massas e organizar a luta nas ruas. Trata-se de uma experiência que a classe operária precisa esgotar.
O imperialismo, em especial o norte-americano, possui uma agenda muito concreta para o Brasil: recolonizar o País. O PT, por mais reformista que seja, não só não representa essa agenda, como acaba sendo um obstáculo a tais planos em virtude da sua base social. Não fosse assim, os setores da burguesia não teriam articulado o golpe, uma política que custou caro às próprias instituições burguesas.
Ampliar a luta contra a retirada de direitos
A histeria da imprensa burguesa contra as candidaturas do PT deixa evidente que o Partido dos Trabalhadores, neste momento, não representa a política central da direita. Exemplo foi a participação dos candidatos nas “entrevistas” cedidas ao Jornal Nacional. De acordo com o levantamento feito pela Revista Fórum, o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, foi interrompido 17 vezes em sua entrevista ao telejornal, tendo direito a 16m 17s de fala. A candidata da Rede, Marina Silva, foi interrompida 20 vezes e falou durante 19m 30s. O candidato do PDT, Ciro Gomes, foi cortado 34 vezes, enquanto o candidato do PSL, Jair Bolsonaro, foi interrompido em 36 momentos – eles falaram 15m 20s e 16m 47s, respectivamente. Já o candidato do PT, Fernando Haddad, foi cortado 62 vezes (26 vezes a mais que Bolsonaro e 45 vezes a mais que Alckmin) – conseguindo, mesmo assim, falar 16m 05s.
A política da Rede Globo, imprensa oficial da burguesia e porta-voz dos golpistas, é a de queimar o PT de todas as formas possíveis, como fica evidenciado mais uma vez.
Sob o controle da burguesia, o sufrágio universal é 100% manobrável para a direita e as eleições representam limitadamente a vontade popular, em qualquer época ou lugar do mundo. Mas mesmo considerando tudo isso, é preciso atuar nesse espaço burguês para disputar as massas e evidenciar as contradições do próprio regime. Nesse sentido, participamos destas eleições golpistas chamando o voto crítico no PT para ampliar a luta contra as manipulações da direita que quer evitar a eleição de um presidente cuja participação e crescimento na campanha se devem ao grande apoio popular aos governos Lula. Apoiar a candidatura de Haddad não significa defender seu projeto reformista de governo, muito menos a continuação da política de conciliação de classes da Frente Popular, até mesmo porque essa política está inviabilizada pela própria direita. O significado desse apoio está diretamente relacionado à resistência ao golpe e às medidas antipopulares dos golpistas, como a Reforma Trabalhista, a perda de direitos e o empobrecimento da classe trabalhadora. Qualquer governo eleito neste momento terá imensa dificuldade para desfazer o avanço dos ataques sofridos pela classe trabalhadora nos últimos anos, porém, o único partido que, se eleito, sofrerá forte pressão das camadas organizadas da classe trabalhadora para governar junto ao povo é o PT.
O que os eleitores do PT esperam é que o partido compre a briga com a burguesia através de ações diretas. A capitulação e o não cumprimento das promessas eleitorais significarão a ampliação da desilusão dos trabalhadores com a política de conciliação de classes e, consequentemente, a desmoralização cabal do PT enquanto partido de massas com base social. A experiência com Haddad será mais um passo no sentido da evolução da consciência de classe dos trabalhadores.
Não podemos deixar de falar também que, mesmo que o PT vença essas eleições, isso não significa que conseguirá governar. Poderá haver uma luta política até mesmo para impedir que o petista consiga assumir, uma vez que a direita já deixou brechas para utilizar contra Haddad, caso necessário, como, por exemplo, a denúncia de corrupção e Caixa Dois feita pelo Ministério Público do Estado de São Paulo.
Outro fator importante é utilizar estas eleições para fazer avançar a luta contra a prisão política de Lula. É preciso fazer a crítica contra a capitulação da direção do PT que tem abandonado tal campanha, assim como capitulou diante do golpe que retirou a presidenta Dilma Rousseff.
Somos, também, da opinião que votar nulo, neste momento, é apoiar o fascismo. Não podemos fazer campanha para a política do “quanto pior melhor”, essa é uma ideologia esquerdista e sectária que só pessoas totalmente desconectadas com o movimento de massas poderiam levar adiante. A esquerda como um todo precisa ir às ruas fazer a disputa da consciência dos trabalhadores que, nesse momento, está sendo totalmente cooptada pela direita, com a falsa campanha de “combate à corrupção”.
É preciso organizar a luta em defesa dos direitos democráticos contra o fascismo e a entrega do País aos abutres internacionais. Uma frente única dos movimentos populares está colocada na ordem do dia para lutar contra a retirada de direitos e a investida da extrema-direita.