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Guerra comercial entre Estados Unidos e China

O mundo capitalista atravessa a pior crise de sua história. Assim como outros colapsos do capitalismo, atravessamos hoje uma crise de superprodução. Sua particularidade é que se trata de uma crise de superprodução de capital especulativo, em níveis nunca antes visto. A maior parte do capital que circula no mundo advém da expectativa de lucro, taxas de juros, câmbio, etc. Ou seja, não possuem nenhum lastro real com a produção no sentido estrito da palavra.

Essa condição de crise econômica faz com que os grandes capitalistas acabem entrando em embate entre si. Afinal, no capitalismo, a única lógica existente é a busca incessante pelo lucro, cada um por si, num verdadeiro “salve-se quem puder”. E quanto mais a crise vai se deteriorando, maiores são os atores que entram na disputa pelos lucros. É justamente nesse sentido que as duas maiores economias mundiais, Estados Unidos e China, estão prestes a travar uma guerra comercial.

Na verdade, um embate comercial contra a China nada mais é do que uma promessa de campanha do presidente dos EUA, Donald Trump. Com o slogan “America First” (América primeiro), Trump prometeu que seu principal foco econômico seria o combate aos produtos estrangeiros e o fortalecimento da indústria estadunidense. Aqui cabe o adendo: os liberais adoram alardear sua defesa do livre mercado, do Estado mínimo, e utilizam os Estados Unidos como modelo para falar de suas ambições políticas. Ocorre que no momento de crise, estes mesmos liberais blasfemam contra seu “Deus mercado” e recorrem ao Estado como instância reguladora da economia. Haja hipocrisia.

Naturalmente, o fato de os Estados Unidos passarem a praticar o protecionismo, evitando ou taxando a importação de produtos manufaturados de outros países, traria problemas. Afinal, o país, enquanto maior economia capitalista do mundo, é, também, o principal comprador mundial. E o principal alvo dessas taxações, no cenário econômico mundial, teria que ser a China, um dos principais exportadores de manufaturados.

E foi justamente neste sentido que Donald Trump anunciou, no último dia 5 de abril, que iria impor US$ 150 bilhões em tarifas sobre os produtos chineses. A China, naturalmente, retaliou a ação econômica estadunidense, taxando pesadamente vários produtos que vinham deste país, como a soja e os automóveis. Desde então, seja através de medidas cambiais ou de taxação, seja através de pronunciamentos hostis contra as autoridades do outro país, China e Estados Unidos têm provocado a tensão de um acirramento comercial entre os dois países, que terá repercussões em todo o globo.

O desenrolar dos conflitos

Disputas como a que estamos vendo entre China e Estados Unidos são geralmente resolvidas na Organização Mundial do Comércio, órgão criado na década de 1990 justamente para tentar “solucionar” conflitos comerciais entre os países. Acontece que Donald Trump tem agido contra a economia chinesa sem submeter seu plano de ação à OMC. A China, por outro lado, tem levado suas queixas à OMC, tentando mostrar à comunidade internacional que está seguindo as regras comerciais, ao contrário de seu rival.

Uma das principais alegações de Trump para atuar contra a China seria o fato de o governo chinês operar com padrões trabalhistas e sociais distantes dos existentes nos Estados Unidos. Além disso, o presidente estadunidense acusa os chineses de roubarem propriedade intelectual sistematicamente e de se apropriar de tecnologia alheia. Parece até piada de mau gosto, mas não é. O mandatário do país que mais espoliou as propriedades naturais e intelectuais da história do capitalismo, que move guerras para tirar petróleo do Oriente Médio, está acusando outro Estado de se utilizar de tecnologias produzidas por terceiros. Vale ressaltar que o “boom” do neoliberalismo, ocorrido no fim do ano passado, tinha como “carro-chefe” justamente os baixos salários pagos aos mais de um bilhão de operários chineses, que garantia baixos custos e uma grande produção de manufaturados aos monopólios capitalistas.

Apesar dessas ironias nas falas de Donald Trump, é fato que desde que a China se abriu para o mercado externo, se tornando um capitalismo de Estado, sua posição no mercado mundial aumentou exponencialmente, transformando-se na segunda maior economia do mundo. Como os gastos são pequenos e a produção é gigante, justamente pela imensa disponibilidade de capital humano proletarizado, a China se tornou um “monstro” comercial. Os efeitos são visíveis na relação entre o país asiático e os Estados Unidos. Enquanto os EUA exportam para a China um valor que gira na casa dos US$ 130 bilhões, a China exporta para os EUA o valor de US$ 505 bilhões.

E é por este déficit que Trump está levando adiante a guerra comercial contra a China. Enquanto o mundo estava com o mínimo de estabilidade, enquanto era possível continuar jogando com o capital especulativo, os Estados Unidos não iniciou nenhum processo mais ofensivo contra os chineses. Agora que o capital especulativo atingiu tal patamar que tornou impossível se extrair lucro da produção, Trump está decidido a cortar, no mínimo, US$ 100 bilhões deste déficit.

Os efeitos no mundo

A situação é muito séria. Tanto que os dois países tentam achar uma saída, por meio da diplomacia. As negociações já chegam à terceira rodada. No dia 02 de junho, uma delegação estadunidense liderada pelo secretário de comércio, Wilbur Ross, esteve em Pequim para tentar resolver as tensões. O governo Trump afirmou que iria cancelar os US$ 150 bilhões em impostos, enquanto o governo chinês prometeu exportar mais produtos dos Estados Unidos, de forma a tentar diminuir o déficit comercial.

O problema, porém, não está nem próximo de acabar. A Casa Branca anunciou que continuaria taxando em 25% os produtos chineses que contenham tecnologia que viola a legislação de propriedade intelectual.

O detalhe é que Trump afirmou que serão os próprios Estados Unidos quem deliberará sobre essa violação. Ou seja, as rodadas de negociação, em breve, não passarão de letra morta.
Pelas ações de Trump, vários países estão questionando os Estados Unidos. O ministro brasileiro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Marcos Jorge de Lima, afirmou que o governo brasileiro não descarta entrar com uma ação na OMC contra os EUA. O presidente da Câmara de Indústria e Comércio da Alemanha (DIHK), Eric Schweitzer, também declarou: “Uma briga entre as duas maiores economias do mundo teria efeitos negativos também para a economia alemã”.

O que está em cena é que esta guerra comercial entre as duas maiores potências do mundo, se não resolvida, facilmente pode se tornar uma guerra militar. E nenhuma das duas guerras, comercial ou militar, tem relação com as aspirações da classe trabalhadora. Elas não passam de extratos da burguesia, brigando em um momento de crise para controlar a maior fatia possível do mercado mundial. E a estes burgueses não interessa as condições de vida nem dos outros burgueses, que dirá de outra classe. Para a classe trabalhadora fica cada vez mais evidente que o capitalismo é apenas um mecanismo de repressão. As grandes brigas travadas não trazem nada de positivo. Por isso, a luta operária deve ser movida pela destruição deste sistema perverso.

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