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Bem-vindos à barbárie. Organizar a luta já!

Bastou Jair Bolsonaro (PSL) ganhar o pleito eleitoral, no dia 28 de outubro, para que seus apoiadores começassem a agir “livremente”, perseguindo minorias e caçando opositores, atos que foram embasados no discurso de ódio levado adiante por Bolsonaro durante toda sua campanha.

Já nas “comemorações” foi dado uma amostra do que está por vir: um número grande de vídeos começou a circular, com seus apoiadores saindo armados às ruas, dando tiros a esmo. Uma criança de oito anos foi morta após ser atingida por uma bala perdida, em Ponta Grossa, Paraná, já no dia 28 de outubro. Segundo a Polícia Militar, um amigo da família da criança manuseava a arma, símbolo para eles da vitória de Bolsonaro, quando foram efetuados dois disparos. A morte dessa inocente parece não ter comovido em nada os defensores da “família tradicional brasileira”.

Um aluno do Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG), localizado em Santa Luzia, foi covardemente agredido, ainda na madrugada do dia 28. Segundo a nota do Diretório Acadêmico de Arquitetura e Urbanismo do IFMG, o estudante estava voltando de uma boate quando foi cercado por três homens que o agrediram e, durante o ato, gritavam frases como “sua gente vai acabar” e “veados têm que morrer”. A vítima foi alvo de chutes e socos e, ao fim, ainda teve uma garrafa quebrada em sua cabeça.

Em Salvador, no Farol da Barra, ainda durante a comemoração da eleição de Jair Bolsonaro, quatro pessoas foram baleadas. O responsável pelos tiros foi o policial militar, Manoel Landulfo Sampaio, que estava à paisana e alcoolizado. Ainda em Salvador, no mesmo dia, a militante ligada ao movimento suprapartidário Esquerda Unida, Janaína Barata, foi covardemente agredida por policiais militares. Foram dados incontáveis golpes com cassetetes até que ela desmaiasse. Nas redes sociais, houve enxurrada de publicações como “Agora com o nosso mito Bolsonaro eleito acabou o crime de homofobia no Brasil. Não será aceito Gays e nem Lésbicas, vamos juntos já unirmos e começar a fazer a limpa. Gays no Brasil não!”, ou pedindo a morte dos “petralhas” e nordestinos.

Todas essas ações são reflexo direto das falas do representante da extrema-direita, Bolsonaro, que afirmou inúmeras vezes que em seu governo policial teria carta branca para matar e os “bandidos de vermelho” e minorias seriam extinguidas.

Cabe ressaltar que tais ações não se deram apenas depois do pleito eleitoral. Os ataques promovidos por apoiadores de Bolsonaro, inclusive com assassinatos por motivações políticas, foram a tônica durante a campanha de 2º turno. Como exemplo, podemos citar as mortes do mestre de capoeira, Moa do Katende, na Bahia, após ele ter se afirmado como eleitor de Fernando Haddad, e uma travesti que foi assassinada à facadas em um bar no centro de São Paulo. Uma das testemunhas desse segundo caso afirmou ter ouvido gritos de “Bolsonaro” durante o homicídio.

 

Bolsonaristas incitam a violência

 

Além da violência física, outros abusos e provocações estão sendo cometidos por apoiadores do representante da extrema-direita. Logo após a eleição, a deputada estadual do PSL, eleita por Santa Catarina, Ana Carolina Campagnolo, tem feito campanha via redes sociais para incentivar alunos que mandem vídeos do que ela chama de “professores doutrinadores” que estariam inconformados e revoltados com o resultado das eleições. O próprio Bolsonaro chegou a gravar vídeo pedindo a perseguição e censura dos docentes.

Campagnolo criou um canal de denúncias anônimas na internet para que os alunos fizessem suas denúncias. Cabe ressaltar que essa caça às bruxas é inconstitucional, uma vez que a Lei de Diretrizes e Bases garante a liberdade de ensino e aprendizagem. O que a deputada está fazendo é adiantar a Escola sem Partido, proposta que ainda não foi aprovada, mas que tem como objetivo central cercear o livre direito de expressão dos professores.

A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Santa Catarina soltou nota de repúdio contra a ação, afirmando: “a OAB/SC tem acompanhado com muita preocupação a disseminação de estímulos à perseguição, violência e intolerâncias diante da livre manifestação, incentivo ao anonimato como meio de ofender o direito à discordância de pensamentos. A instituição entende ainda como um agravante, insuflar alunos a agirem como censores/delatores dos seus próprios professores, numa cultura lamentável”.

No dia 29 de outubro, um pequeno grupo de alunos da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP) entrou armado nas dependências da instituição, trajando roupas militares e blusas com alusão ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Invadiram as salas de aula, se fotografavam armados, anunciando a chegada de uma “nova era” e ameaçavam com palavras de ordem como “as petistas safadas vão ter que tomar cuidado”. Embora os responsáveis pelo ato não inspirem medo em ninguém, o discurso que reproduzem denota a perseguição política que será promovida no governo de Bolsonaro.

Outros grupos também tentaram entrar na Universidade Federal de Minas Gerais, no dia 28 de outubro, e na Universidade de Brasília, no dia 29 de outubro. No primeiro caso, a divisão de segurança universitária os interceptou imediatamente, enquanto tentavam pichar o muro da Escola de Belas Artes com palavras pró-Bolsonaro. No segundo, os manifestantes pró-Bolsonaro estavam em um número ínfimo e foram colocados para fora pelos alunos presentes que se manifestaram contra o fascismo, mostrando que para toda opressão haverá reação.

Para fora das escolas e universidades, e dos casos que tiveram ampla repercussão na imprensa burguesa, houveram outros ataques. Na noite do dia 27 de outubro, o acampamento Sebastião Bilhar, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), em Irmãos do Buriti, no Mato Grosso do Sul, foi alvo de incêndio criminoso. Segundo testemunhas, entre 20 e 21 horas, um grupo chegou em uma caminhonete, gritando o nome de Bolsonaro e atearam fogo em um dos barracos.

Na madrugada do dia 28 de outubro, em Dourados (MS), indígenas da etnia guarani-kaiowá afirmaram que foram atacados a tiros por desconhecidos. 15 pessoas ficaram feridas, sendo duas por armas de fogo. Uma das vítimas, uma criança de nove anos. Na mesma linha, a comunidade indígena Povo Pankararu, localizada no sertão Pernambucano, sofreu com incêndios criminosos em sua única escola e seu único posto de saúde, também no dia 28 de outubro. Isso sem falar na sede da Central Única dos Trabalhadores (CUT) em Maceió-AL, que foi alvo de tiros na noite do dia 28 de outubro. Os dirigentes da CUT AL chegaram a registrar um boletim de ocorrência no dia seguinte, mostrando inclusive as perfurações feitas pelos disparos na placa da sede.

 

O ódio de Bolsonaro não é “fogo de palha”

 

Todos esses ataques são frutos do aprofundamento do discurso de ódio que vem sendo proferido há anos contra o PT, contra as minorias (movimento sem-terra, quilombolas), além do já velho preconceito contra negros, mulheres e LGBT's, que foi intensificado por Bolsonaro durante toda sua vida pública. Se há mais de duas décadas, o agora presidente já havia afirmado que era favorável à tortura e que o erro da ditadura foi “torturar e não matar”, nos últimos anos ele tornou seu discurso contra minorias e contra a oposição política ainda mais violento.

Falou abertamente contra todos esses setores, propôs acabar com os movimentos sociais, prometeu fuzilar militantes de esquerda e mandá-los para a “Ponta da Praia”, que era a expressão que a Ditadura Militar utilizava para os locais de extermínio de oposição. Rememorando o slogan da ditadura, “Brasil: ame-o ou deixe-o”, Bolsonaro afirmou que para sua oposição, restará o exílio ou a cadeia.

Tais falas dão o embasamento, a noção de impunidade, para seus apoiadores cometerem a barbárie que vêm cometendo. A nós cabe resistir a todo esse ódio, ao fascismo social, que se alastrará com a vitória do fascismo político, representado por Bolsonaro.

É fundamental organizar os trabalhadores pelas bases, para resistir e derrotar o fascismo. É somente nas ruas que a população conseguirá se opor e enfrentar esses ataques. Todos às ruas lutando por nossos direitos, nossa existência.

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