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Eleições no México

No último dia 1º de julho, o candidato da coalizão de esquerda chamado Movimento de Restauração Nacional (MORENA), André Manuel López Obrador, foi eleito presidente do México. No país não existe segundo turno em eleição presidencial, mas mesmo se houvesse, não seria necessário: Obrador venceu com 53,3% dos votos contra 22,1% do segundo colocado, o conservador Ricardo Anaya. Esta é a maior diferença obtida em uma eleição presidencial mexicana desde 1982.

A vitória do MORENA também foi acachapante no poder legislativo. A coalização ficará com 310 dos 500 assentos para deputados federais e 68 das 128 cadeiras do Senado. Em âmbito estadual, governará cinco dos nove estados cuja eleição foi realizada também no dia 1º de julho e também terá maioria parlamentar em 17 dos 31 legislativos estaduais.
Não é coincidência que uma coalizão de esquerda tenha conseguido uma vitória tão contundente no México. Afinal, depois de mais de 18 anos em mãos de governos abertamente neoliberais, o país está enfrentando uma verdadeira convulsão social. O volume do narcotráfico aumentou exponencialmente desde a adesão ao NAFTA (Tratado Norte-Americano de Livre Comércio, na sigla em inglês), bloco econômico formado por México, EUA e Canadá.

A brutalidade inerente ao tráfico também cresceu como, por exemplo, o massacre de Ayotzinapa de 2014, no qual seis estudantes foram mortos por policiais e outros 43 entregues a narcotraficantes para serem executados (em represália ao fato de terem planejado um protesto político). Outro dado que comprova essa escalada da violência foi o assassinato, por parte dos cartéis de drogas, de 13 jornalistas investigativos, em 2017, muito dos quais realizados com requintes de crueldade.

Além disso, no campo econômico, com o NAFTA, o México se tornou uma verdadeira mina de ouro para o imperialismo estadunidense. Isso porque a economia permaneceu estagnada desde então: os salários se mantiveram no mesmo nível desde 1980 e houve o aumento vertiginoso da concentração de renda e da pobreza. Tal política levou a uma série de protestos, que tiveram ápice em 2016, puxado principalmente pelo aumento de 20% no preço da gasolina. Foram levantadas barricadas nas principais cidades, com os manifestantes partindo para o confronto com a tropa de choque e saqueando lojas.
Cabe ressaltar que, em conjunto com esse cenário caótico, o México teve que lidar com a xenofobia do presidente estadunidense, Donald Trump, que dentre outras medidas, tem por intensão “construir” um muro na fronteira entre os dois países, com o grosso das despesas sendo pagas pelo governo mexicano. Além do muro em si, Trump deseja revisar o acordo de livre comércio do NAFTA, taxando os produtos mexicanos que entram em solo estadunidense e mantendo a não taxação para os produtos estadunidenses que vão para o México. Um “acordo” completamente unilateral, que só tem aspectos negativos para a economia mexicana.



Acirrar a luta de classes ou capitular ao imperialismo



Como se percebe, André Manuel López Obrador assume um país à beira do colapso, envolto a uma grande convulsão social, causada pela escalada da violência do narcotráfico, e diante de uma crise econômica sem precedentes, ainda tendo que lidar com a sanha imperialista de Donald Trump. Cenário muito parecido com o que assumiu o ex-presidente Lula, no Brasil, em 2002, ou seja, um país economicamente quebrado, com taxas astronômicas de desemprego, à beira de um apagão elétrico e com riscos de aderir à Área de Livre Comércio das Américas (ALCA) que, na prática, serviria para aumentar ainda mais a ingerência econômica estadunidense na América Latina.

Resta saber qual vai ser a posição de Obrador: se a de um governo reformista, de conciliação de classes, ou se se utilizará desse cenário para acirrar a luta de classes e governar com a força do povo. De fato, desde que sua vitória foi confirmada, Obrador vem recebendo os aplausos dos líderes mundiais, incluindo o próprio Trump, além dos candidatos derrotados, sindicalistas, intelectuais e até empresários. Caminho limpo para a conciliação de classes.

Justamente por esse motivo, o Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN), grupo de extrema-esquerda mexicano, com atuação forte no movimento indígena no sul do País, advertiu que o governo será uma nova decepção. De acordo com nota emitida pouco depois do resultado do pleito eleitoral, o EZLN afirmou que “podem mudar de capataz, de mordomos e jagunços, mas o fazendeiro continua sendo o mesmo”.
Obrador terá que escolher o caminho: o que o levará ao contínuo jogo do “fazendeiro”, ou seja, dos donos dos meios de produção, ou o de governar em nome e a favor do proletariado mexicano. Em remota hipótese de ser o segundo, abre-se a conexão México, Cuba e Venezuela.

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