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Facebook a serviço do imperialismo e do controle das eleições

As últimas revelações acerca da invasão de privacidade através do Facebook devem deixar claro ao mundo que nenhuma inovação tecnológica estará livre do controle burguês enquanto a humanidade estiver sob o jugo da dominação burguesa. 

Em março deste ano, os jornais The New York Times e The Observer denunciaram que a Cambridge Analytica, uma empresa privada que combina mineração e análise de dados com comunicação estratégica para o processo eleitoral, teria usado informações pessoais de 50 milhões de perfis, obtidas através do Facebook. De acordo com o jornal britânico The Guardian, o Facebook tinha conhecimento que essa violação de segurança aconteceu por dois anos, mas não fez nada para proteger seus usuários. A Cambridge Analytica foi criada em 2013 para participar da política dos Estados Unidos. Um de seus proprietários, Robert Mercer, é um grande financiador de organizações que apóiam causas políticas de direita nos Estados Unidos, como a campanha de 2016 de Donald Trump para presidente. Mercer também deu apoio fundamental para a campanha do Brexit.

A empresa lançou um aplicativo de teste psicológico no Facebook e, através dele, teve acesso ao volume de dados dos usuários e de seus amigos. Recentemente, em depoimento ao Parlamento Britânico, Brittany Kaiser, ex-diretora da Cambridge Analytica afirmou que o número de usuários do Facebook com informações comprometidas é “muito maior do que 87 milhões” e que a possibilidade de a companhia acessar os dados do Facebook era conhecida e até mesmo usada como ferramenta de marketing junto a clientes. Só no Brasil, estima-se que os dados pessoais de 443 mil pessoas foram usados sem consentimento prévio.

Vários países da América Latina abriram investigações sobre o "vazamento" de dados realizado pela Cambridge Analytica. No Brasil, terceiro maior mercado para o Facebook em todo o mundo, a empresa possui uma subsidiária chamada “A Ponte Estratégia Planejamento e Pesquisa”, localizada em São Paulo. A própria Cambridge Analytica informou que trabalhou em uma série de países, incluindo Austrália, Brasil, Malásia e México e é conhecida por ter se envolvido em eleições locais na Índia, em 2010. Um dos diretores da empresa, Alexander Nix, alegou que eles comandaram secretamente as eleições de 2013 e 2017 do presidente queniano, Uhuru Kenyatta.

Não é difícil associar como a estratégia que interferiu nas eleições nos Estados Unidos de 2016 e está ligada diretamente aos planos do imperialismo em colocar a direita no poder em todo o mundo poderá interferir nas eleições de 2018 no Brasil, quando um processo golpista está em andamento.


Espionagem aberta


O escândalo envolvendo o nome do Facebook levou a investigações que trouxeram novas revelações. Em 5 de abril, a rede BBC, de Londres, noticiou que, de acordo com o Facebook, "agentes maliciosos" coletaram indevidamente informações de perfis por anos ao se aproveitar da função da rede social que permitia fazer buscas usando dados como email e número de telefone.  Golpistas associaram endereços de contas de email e de telefone ao nome de usuários e às informações de seus perfis.

Matt Hancock, secretário de Estado para questões digitais, cultura, mídia e esporte do governo britânico, disse que o Facebook havia colocado "os dados de milhões de cidadãos em risco" ao incentivar que usuários informassem seu número de telefone em suas contas para facilitar o contato com amigos e melhorar sua segurança. Esse recurso permite ligar um telefone, mesmo que inventado, ao perfil de alguém, o que revela seu nome, localização e outros dados pessoais.

Além disso, foi revelado também que através do Facebook é possível coletar dados de não usuários da rede social quando estes curtem ou compartilham algum conteúdo no Facebook em sites de outras empresas, usam sua conta na rede social para se registrar em um site ou aplicativo ou acessam um serviço que é cliente de anunciantes do Facebook.

O escândalo da Cambridge Analytica forçou os responsáveis pela empresa Facebook a se pronunciarem em vários espaços públicos a favor da privacidade dos usuários. Paul Grewal, vice-diretor do departamento jurídico da empresa, afirmou em nota à imprensa que “proteger as informações das pessoas é um princípio fundamental de tudo o que fazemos”. Em seguida, Mark Zuckerberg, o fundador e CEO da empresa, garantiu aos parlamentares norte-americanos que acreditava que tinha “a responsabilidade de não apenas criar ferramentas, mas de garantir que essas ferramentas sejam usadas para o bem”.

Esse posicionamento defensivo revela que a empresa tem um arsenal de informações à disposição do mercado, das eleições e de todo tipo de golpistas e que, inevitavelmente, irá lucrar com isso.


Quem controla e quem se beneficia


Em seus quatorze anos de existência, o Facebook tem se envolvido em inúmeras polêmicas sobre a questão da privacidade de seus usuários. Se isto é preocupante em relação à segurança e ao direito à privacidade do cidadão, algo muito mais perigoso está sendo posto em prática através da Inteligência artificial. Segundo o jornalista Sam Biddle, em artigo publicado no site The intercept, “o fato de o Facebook estar disposto a vender sua capacidade de prever nossas ações – e nossa fidelidade e produtos, marcas e candidatos– se tornou ainda mais preocupante depois das eleições americanas de 2016, quando a equipe de campanha digital de Donald Trump usou as ferramentas de direcionamento do Facebook com resultados impressionantes.” Bidlle alerta que a empresa nunca ocultou sua colaboração com campanhas políticas em todo o mundo e gaba-se de ser capaz de influenciar a taxa de comparecimento às urnas. Em um dos vários escândalos que colocaram em xeque a confiabilidade da empresa, o Facebook afirmou que a colaboração com o Partido Nacional Escocês teria contribuído para “uma vitória esmagadora”. 

O jornalista teve acesso a um documento que descreve um novo serviço de publicidade que aprofunda a venda de informações de usuários do Facebook para empresas. Trata-se de um software de previsão que usa uma inteligência artificial capaz de evoluir sozinha, lançado em 2016, e batizado de “FBLearner Flow”. Em vez de fornecer um serviço de direcionamento de anúncios com base em dados demográficos e preferências de consumo, a rede social oferece às empresas a possibilidade de segmentar seu público-alvo com base no comportamento, nos hábitos de consumo e nos posicionamentos “futuros” dos usuários. Isso tudo cria a possibilidade de interferir nas decisões do público-alvo.

A política de privacidade do Facebook é arbitrária e cada denúncia é resolvida com uma declaração pública de Zuckerberg que, se não convence os mais interados do assunto, ao menos consegue manter a grande adesão do público à rede social.

Mas isso não é novidade em relação à mass media, utilizadas historicamente em nome dos projetos de poder das classes dominantes. As redes sociais, apesar de sua aparência democrática, não se diferencia. Muitos teóricos, sempre a postos para defender a farsa da democracia burguesa, se esforçam para criar conceitos que tentam enquadrar as novas tecnologias em uma suposta forma libertária de comunicação. Assim, surgiu o conceito de self media, por exemplo, que enaltece o papel interativo do receptor da informação. Porém, todas as revelações sobre o uso comercial e político do Facebook comprovam que as redes sociais se consolidam como mais uma arma poderosa da burguesia para controle e manipulação das informações. 


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